quarta-feira, 5 de março de 2008

Exercício de jornalismo literário em capítulos

XV – Herdeiros universais

Gabriel se preocupou com a extrema pobreza em que viviam os religiosos da ordem de São Bento, que sobreviviam da caridade das famílias influentes de Salvador. Chegou até a escrever ao rei contanto o estado de penúria dos monges baianos, o que contrariava a fama de riqueza que os beneditinos, uma congregação milenar, possuíam na Europa.

Gabriel também pedia providências para que o mosteiro pudesse se desenvolver. Explicava como era importante a permanência dos religiosos na cidade para ajudar no processo de conversão dos índios, além de cuidar das almas dos colonos. Por outro lado, é também o cronista quem descreve os engenhos mantidos pelos beneditinos no recôncavo baiano, como o de São Bento das Lages, onde no século XIX foi construída a Real Escola de Agronomia.

Foi pensando em ajudar a sobrevivência e garantir a expansão da ordem na Bahia que Maria Carneira e seu marido inauguraram as doações pias em Salvador. Seguiu o exemplo do casal, além de Gabriel Soares, a índia Catarina Paraguaçu, também responsável por uma gorda contribuição para os cofres do mosteiro.

Nas terras de Gabriel Soares, o próprio cronista sugeria que os monges fizessem “muitas teresinas ao longo do mar para alugar”. As teresinas eram cortiços construídos para abrigar as famílias menos abastadas. O cronista deixava ainda foros de casa para serem administradas pelo mosteiro e nomeava como testamenteiro, a própria mulher. Na falta dela, um padre de confiança deveria executar as determinações.

Andreia Santana, trecho da reportagem Cronista da Colônia, publicada em junho de 2004, no jornal Correio da Bahia

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