sábado, 1 de março de 2008

Exercício de jornalismo literário em capítulos

VII - Caça ao manuscrito

A morte prematura impediu Gabriel Soares de Souza de aproveitar a fama de Noticias do Brasil. Os cadernos onde ele escreveu de memória, só para passar o tempo nas secas tardes madrilenas, atravessaram os séculos ora com o texto publicado na íntegra, ora fragmentado e até com o título trocado. O original do manuscrito, depois de 400 anos, ninguém sabe onde foi parar.

Francisco Adolfo Varnhagem, pesquisador do século XIX, especulou que os cadernos de Gabriel foram queimados durante o incêndio na biblioteca do conde de Vimieiro. Responsável pela primeira publicação da obra na era moderna, foi graças ao trabalho iniciado por Varnhagem que as famosas descrições puderam chegar até os dias atuais. Depois dele, diversos outros pesquisadores já se debruçaram sobre Noticias do Brasil, também conhecido como Tratado Descritivo do Brasil de 1587.

Em 1847, Varnhagem empreendeu uma verdadeira caçada ao manuscrito original e encontrou três exemplares na biblioteca de Paris. Depois, achou mais três na cidade do Porto, três em Lisboa, dois em Madrid, um na Torre do Tombo e um no Rio de Janeiro. Nenhuma das cópias eram dignas de confiança.

O príncipe Maximiliano da Áustria, ele mesmo um cronista que registrou impressões do Brasil no século XIX, tinha um exemplar da obra de Gabriel que recebeu de presente durante sua célebre visita à Bahia. Mais uma vez, o texto também não era o original.

Francisco Adolfo Varnhagem esmiuçou a biblioteca de Valência e virou do avesso os arquivos dos velhos príncipes espanhóis em busca de alguma pista. Tudo em vão, achar as anotações feitas de próprio punho por Gabriel Soares de Souza era tão difícil quanto se deparar com as montanhas douradas das lendárias minas de ouro e prata.


Andreia Santana, trecho da reportagem Cronista da Colônia, publicada em junho de 2004, no jornal Correio da Bahia

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