sábado, 1 de março de 2008

Exercício de jornalismo literário em capítulos

VI - Mar de Infortúnios

Menos de dois meses no mar, próximo à foz do rio Vaza-barris, o Grifo Dourado naufragou e Gabriel Soares de Souza, com título, carta régia e alvarás, foi dar com os costados numa deserta praia sergipana. A maioria da tripulação se salvou, graças ao resgate organizado pelo capitão-geral de Sergipe, Tomé da Rocha.

Refeito do susto, o destemido Gabriel volta à Bahia com os homens divididos em cinco companhias, leva a carta régia ao governador e recebe dele 200 índios flecheiros, retirados dos aldeamentos jesuítas.

Esse primeiro golpe de sorte não mudou o destino de uma expedição que desandou antes mesmo de começar.

Mordidas de cobra, provisões de carne de lagarto (a charque terminara em menos da metade do caminho) e o contato “com águas infestadas de mosquitos peçonhentos” garantiram que o destino, impiedoso como sempre, atrapalhasse os planos de Gabriel.

Para acompanhar a expedição, na vã esperança de acabar com os infortúnios, ele pediu religiosos de diversas ordens, mas a governador só liberou quatro frades carmelitas, porque temia que ao invés de buscar ouro, a bandeira organizada por Gabriel quisesse escravizar índios no sertão.

A rota escolhida pretendia subir o rio Paraguaçu. Felipe II ordenara que Gabriel fundasse povoamentos de 50 em 50 léguas. Antes de morrer, conseguiu fundar dois e construir fortalezas para guarnecer o caminho do rio. Uma delas lhe serviu de sepultura quando morreu de febre amarela.

Andreia Santana, trecho da reportagem Cronista da Colônia, publicada em junho de 2004, no jornal Correio da Bahia

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