quarta-feira, 5 de março de 2008

Exercício de jornalismo literário em capítulos

XIII - Pecador penitente

Gabriel se achava um pecador que não merecia ostentar o nome de um anjo de elevada hierarquia na corte celeste. Temeroso de que sua alma fosse condenada ao inferno, levava uma vida de penitente arrependido. Era irmão leigo da Ordem de São Bento e irmão terceiro do Carmo e São Francisco.

No seu testamento, além da doação de todos os seus bens para o mosteiro de São Bento, legou esmolas de cinco mil réis para cada frade que acompanhasse o enterro. Como morreu no meio do mato e foi inumado às presas num fortim erguido à beira de um rio, é bem provável que os frades não tenham visto a cor das moedas.

As más línguas de ontem e hoje podem até dizer que Gabriel estava literalmente comprando um cantinho no céu, ou no purgatório, porque tinha culpas a expiar. Não se sabe se tanta religiosidade era fruto de algum remorso que carregava ou se era mais uma expressão típica do homem do século XVI, receoso de todos os castigos que os padres pregavam durante a catequese.

Por via das dúvidas, decidiu que a condição para os monges receberem sua gorda herança era rezarem 150 missas, 15 delas cantadas, logo depois de sua morte e, a partir daí, dizerem preces por sua alma “até quando o mundo durar”. Melhor também seria garantir a entrada no céu por todos os meios possíveis, apelando para Nossa Senhora, a advogada eterna, São Francisco, São Sebastião, São Lourenço e todos os santos mártires, “de maneira que o Deos em mim pos o pensamento em meus pecados temendo a estreita comta que delles hei de dar a Nosso Senhor...”

Demonstrando humildade, pediu ainda que no seu túmulo não constassem nomes ou datas, mas apenas os dizeres “Aqui jaz um pecador”.

Andreia Santana, trecho da reportagem Cronista da Colônia, publicada em junhod e 20094, no jornal Correio da Bahia

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