quarta-feira, 5 de março de 2008

Exercício de jornalismo literário em capítulos

XII - Minas de prata

Como muitos portugueses que cruzaram os mares, Gabriel veio ao Brasil em busca das promessas da colonização. No testamento, nas raras vezes em que se refere a si mesmo, deixa escapar que não herdou fortuna do pai, construindo seu patrimônio “por minha indústria e trabalho”. Será que era pobre antes de chegar à Bahia? E se não tivesse escrito Noticias do Brasil, seria só mais um colono não meio de milhares? Com tão poucas referências sobre sua vida e na falta de um biógrafo, era de se esperar que Gabriel fosse associado a diversas lendas. Uma delas, diz que ele foi o descobridor das primeiras minas de prata do Brasil, o que não passa de conversa para embalar sono de menino.

A expedição organizada por Gabriel, depois de muito penar no meio do mato, conseguiu chegar somente até alguns pântanos infestados de mosquitos. Com a sua morte, Julião da Costa assumiu o comando dos sobreviventes e mandou uma mensagem ao governador em busca de novas ordens. Francisco de Souza ordenou o retorno deles para Salvador e cancelou a bandeira. Alguns anos depois, o bandeirante Belchior Dias Moréia ouve de um dos sobreviventes da frustrada viagem às maravilhosas histórias sobre a carta do irmão de Gabriel e decide partir em busca das lendárias jazidas de Eldorado.

As aventuras de Belchior serviram de base para que José de Alencar escrevesse As Minas de Prata. A lenda das riquezas inimagináveis, porém, é bem mais antiga do que o romance ou a viagem de Gabriel.

Desde o século XV, os espanhóis buscavam os tais tesouros na América. Conseguiram explorar bastante ouro e prata no seu lado da linha de Tordesilhas, enquanto os portugueses ainda se ocupavam em garantir a posse do vasto litoral brasileiro.

Nas histórias mais antigas, o eldorado brasileiro também sempre foi procurado na região amazônica. Somente com João e depois com Gabriel Soares de Souza, essa perspectiva muda de lugar e chega até as margens de rios como o Paraguaçu e o São Francisco. A versão do mito reescrita por esses exploradores, colocou o Nordeste do Brasil no roteiro dos caçadores de esmeraldas.

Andreia Santana, trecho da reportagem Cronista da Colônia, publicada em junho de 2004 no Jornal Correio da Bahia

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