XVI – Fortuna dilapidada
Da abertura do testamento, em
Reforçam a tese de que a herança era puro golpe de marketing do cronista, declarações como a de Frei Vicente do Salvador, que afirma que durante a longa permanência na Espanha, Gabriel gastou muito dinheiro com os requerimentos à coroa para conseguir autorização para montar sua expedição.
Outro adepto da versão de que a herança era um presente de grego é o monge Mateus Ramalho Rocha, que contou a história da chegada de sua ordem à Salvador. Ele escreve que somente em 1604, depois de pagar as dividas deixadas por Gabriel, “que o mosteiro pôde entrar na posse de um pedaço de terra, no caminho da Vila Velha, da banda do mar e da outra, que nenhum dos credores lançou mão por ser muito estéril e de pouco proveito”.
Do outro lado, defendendo os interesses de Gabriel Soares de Souza estão, além do seu próprio testamento, ditado por um homem “são e bem disposto, em todo o seu entendimento e perfeito juízo”, pesquisas como a dissertação de Herminia Oliveira Hernandez: O patrimônio territorial do mosteiro de São Bento da Bahia, defendida em 2000, no mestrado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia. A pesquisadora levantou que os terrenos doados por Gabriel ao mosteiro incluíam a Piedade, Largo dos Aflitos (incluindo a igreja), o largo do Accioli (Dois de Julho) a área do Forte de São Pedro e Passeio Público, além da Fortaleza da Gamboa. Uma imensidão de 29 ruas e 473 terrenos.
A memória das mudanças que essas ruas sofreram desde a época das sesmarias até os dias atuais, se apaga na mesma velocidade em que os historiadores contemporâneos se desinteressam da época colonial. Enquanto o tempo avança, Gabriel Soares de Souza, o primeiro senhor do Solar do Unhão, ex-colono e lavrador, dono de engenhos no Recôncavo, bandeirante e cronista do rei, se torna um personagem remoto na história de Salvador, cidade que ele ajudou a criar com o seu texto carregado das coloridas tintas do século XVI.
Um comentário:
cada dia melhor...
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