Quis o destino que a amizade entre Maria Luiza e Maria Helena durasse a vida inteira. Apesar das diferenças gritantes entre as duas, a cumplicidade que desenvolveram beirava o sobrenatural. Podiam ler os pensamentos uma da outra. Sabiam até o que a outra iria dizer antes das palavras serem ditas, bem antes de serem pensadas.
Marilu era madrinha de Maria Clara, a filha de Leninha. E Luis Fernando, o filho de Maria Luiza, tinha o temperamento da “tia” Maria Helena.
O namorado bocó virou marido e tinha na comadre Marilu a melhor amiga e cúmplice. Ela o ajudava a entender a complexidade do temperamento da esposa. Consolava-o nos momentos em que a autora de best sellers se tornava indócil.
Marilu era fotógrafa e o olhar treinado tornara-a capaz de ver o que ninguém mais via. Sob as camadas de cada calundu da amiga mais velha, via a fragilidade e a doçura da menina que a levava para a escola contando histórias sobre dragões e nuvens.
Leninha tinha o dom das palavras. Sua forma apaixonada de escrever a colocara no topo dos dez mais lidos há anos. Nos seus dias de sol, quando falava, era capaz de inspirar multidões. Nos dias de trevas, isolava-se em si mesma e feria com garras de aço quem tentava invadir essa solidão.
Maria Clara cresceu consciente de que “mamãe” tinha os beijos mais doces do mundo, as histórias mais incríveis que já foram contadas, crises de fúria que assustavam e períodos de indiferença que erguiam muralhas de gelo ao seu redor. Derretiam com o primeiro sol do verão e diante do sorriso dela, as lágrimas choradas depois de broncas injustas viravam fumaça.
Como uma ditadora ciente do poder que tinha nas mãos, Maria Helena era a sombra ora protetora, ora nuvem de tempestade que pairava sobre as cabeças de todos que a amavam. O marido queria as suas palavras. Marilu queria a sua capacidade de morrer e renascer a cada dia. Maria Clara queria o seu coração. E Luis Fernando só queria que a história não terminasse nunca.
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