domingo, 18 de maio de 2008

VII – Aprendiz de hipnotizador

Rajá estava sentado na sua pedra favorita. Era uma pedra redonda e lisa, meio rosada e que ficava às margens de um dos lagos da Cidade de Ouro e Prata. Jogava migalhas de pão para os peixes. Estava tão distraído que nem percebeu a chegada do tio Islamal. Sorrateiro como uma serpente pronta para dar o bote, o mago se aproximou do menino:

- Que lindo dia não é Rajá? Imagino como deve estar encantador lá fora, já pensou em pedir aos seus pais autorização para dar um passeio?

- Eles não deixam. – suspirou Rajá.

- Ora que bobagem, posso falar com eles se você quiser...

- Você faria isso!? – perguntou espantado, mas logo depois lembrou que o tio Islamal nunca havia demonstrado afeto ou interesse pelos seus problemas. Com as sobrancelhas erguidas e um ar desconfiado, Rajá perguntou: – Porque você quer me ajudar?

Islamal escondeu a contrariedade de perceber que Rajá ainda estava em alerta contra ele sob uma máscara de puro arrependimento fingido: - Pensei que essa seria uma boa forma de fazermos as pazes. Bem, você é meu único sobrinho e nós dois nunca fomos grandes amigos, mas ainda dá tempo. Eu não tenho filhos e isso é muito triste na minha idade. Não tenho ninguém para quem ensinar as minhas artes mágicas...

Alguma coisa dentro de Rajá o alertou para o perigo de confiar em Islamal, mas uma outra coisa também se ouriçou toda ao ouvir a expressão “artes mágicas”. O menino era fascinado por magia e secretamente até já tentara realizar alguns truques, mas nenhum tinha dado certo. E se o tio Islamal fosse o seu professor? E se ele fosse só uma pessoa tímida e esquisita? Ninguém nunca tinha visto Islamal fazer alguma maldade, embora todo mundo na Cidade de Ouro e Prata jurasse que ele não era confiável.

Islamal olhava para Rajá tentando adivinhar no que o garoto pensava. Também se esforçava para manter o sorriso fingido e amigável que tinha estampado na cara. Suas bochechas começavam a doer. Não estava acostumado a sorrir e ser bonzinho era muito cansativo.”Vamos pirralho, diga logo que aceita ser meu aprendiz, diga, diga...”

- Tio Islamal, você pode fazer tudo o que quiser usando magia?

- Posso sim. Veja isto... – E ele transformou a pedra onde Rajá estava sentado numa confortável almofada.

- E o que mais você sabe fazer? - perguntou o menino, ansioso.

- Muitas coisas... quer que eu te mostre?

Rajá deu a mão ao tio mago e os dois saíram caminhando em direção ao laboratório secreto de Islamal. O menino acreditava que iria aprender muitos truques divertidos para mostrar aos pais e também estava confiante que, se o tio Islamal, conselheiro em quem seu pai depositava tanta fé, pedisse autorização a Paxá, com certeza o rei permitiria que ele explorasse o mundo além da Cidade de Ouro e Prata. Islamal, por sua vez, comemorava o sucesso da primeira parte do seu plano pérfido.

Um comentário:

Ari Donato disse...

Andreia, também contei muitas histórias para meus filhos e ás vezes eu trocava um ou outro final. Agora, já grandes, ele relembram e dão risadas. Mas, como não ficou nada registrado (em blog ou outra coisa), eu consigo de defender. Siga em frente, essas histórias vão ajudar muito a manter a ligação entre os dois, acredite. Sempre foi assim.