quinta-feira, 24 de julho de 2008

X - A feiticeira da lua crescente

O perfume dela sempre o acalmava. Quando ela entrava no quarto, no meio da noite, todos os espíritos assombrados fugiam. Dormir naquele colo que cheirava a sândalo e alfazema afugentava os pesadelos.

Rajá sonhava com a mãe e podia sentir a sua presença. Era muito bom estar de volta entre as almofadas macias e perfumadas do seu quarto, onde a rainha Isdora brincava com ele. Desde pequeno, o menino gostava de cochilar nas almofadas, ouvindo a voz da mãe cantar músicas muito antigas ou contar histórias que ela aprendia com os idosos sábios da Cidade de Ouro e Prata.

Era muito bom estar em casa depois de uma jornada estafante pela Floresta Sem Fim. Rajá queria se explicar, pedir desculpas por ter hipnotizado os pais, por ter colocado a poção do sono de Islamal no suco do rei e no café da rainha, queria dizer-lhes que estavam certos, que o mundo era grande e perigoso demais para ele, um menino de menos de 11 anos, enfrentar sozinho.

O príncipe estava cansado e a música, a voz da rainha era tão doce, que ele não conseguia explicar nada, não pensava direito, só sentia muito sono. Depois de noites inteiras ao relento, finalmente o menino dormia em um quarto aquecido. “Durma Rajá” – dizia a voz de sua mãe. Irresistível não atender ao apelo daquela voz.

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O príncipe Rajá dormiu cinco dias seguidos. Quando acordou, sentiu falta do peso da jibóia Hamida sobre a barriga. Percebeu que não estava na sua cama, nas almofadas macias, mas em uma cama, em um quarto, completamente diferente dos quartos do palácio onde morava. A mulher que olhava para ele era jovem, mais jovem que sua mãe. Ela era mais alta que Isdora e se vestia com um manto verde, salpicado de girassóis, estrelas, luas, tudo entrelaçado, formando desenhos estranhos. Tinha olhos verdes e os cabelos muito vermelhos, desciam soltos pelas costas.

“Você é a feiticeira da lua crescente?” – perguntou o menino.
“Meu nome é Ishstar, mas me chamam de feiticeira da lua crescente”

Aquela era a moça mais bonita que Rajá tinha visto em toda a sua curta vida e a primeira vez que ele via e falava com alguém que vivia fora da Cidade de Ouro e Prata, alguém que conhecia o mundo. Tinha centenas de perguntas para fazer à feiticeira, queria aprender com ela os segredos dos animais e plantas mágicas da Floresta Sem Fim, precisava saber também se era verdade que a feiticeira preparava uma poção que podia transformar qualquer coisa em comida. Como se pudesse ler a mente do menino, a feiticeira disse:

“Você terá todas as respostas que procura e vou ensiná-lo tudo o que quiser aprender. Seu esforço em me encontrar vale a pena ser recompensado com toda a minha sabedoria. Você será o meu primeiro aprendiz em muitos anos Rajá e espero que use com justiça tudo o que eu ensinar.”

Rajá mal acreditava que iria ser aceito como aprendiz da lendária Ishstar. Não via a hora de começar as lições. Antes, porém, precisava comer, estava com muita fome depois de ter dormido cinco dias seguidos. Outra coisa preocupava o menino, além da barriga roncando: Onde estava Hamida? Sua jibóia, que sempre o acordava de manhã, tinha sumido.


(Para conhecer mais sobre a história do príncipe Rajá, acesse os posts dos dias, 18, 19, 20, 23 e 26 de abril; 01, 03, 18 e 21 de maio; 01 de junho; além daquele de 09 de julho).

Um comentário:

Ari Donato disse...

Andréia, fico feliz quando você acessa "Modas e Viola" e deixa seus doces comentários.
Eu também vivo sob os encantos de uma lua feiticeira, ou de uma feiticeira da lua!
Abraços e um beijo, minha amiga.
Muito obrigado.