- Mas essa história não é sobre o príncipe Rajá?
- É sim.
- Então cadê ele que ainda não apareceu?
- Vai aparecer agora. Escuta só:
Havia um menino que tinha tudo para ser o menino mais feliz do mundo. Mas havia também uma tristeza de doer o peito. Era como se a gente comprasse a gaiola mais bonita e colocasse o pássaro mais bonito dentro e esperasse o pássaro cantar. Mas o pássaro não cantava. Não é que ele não gostasse da gaiola nova, ele não era um passarinho ingrato, mas é que sentia saudade da liberdade. O príncipe Rajá, que nem passarinho era, sentia saudade da liberdade que ele não conhecia.
O príncipe Rajá tinha 10 anos e era muito crescido para a sua idade, por dentro e por fora. Sua pele tinha cor de canela e os olhos eram castanhos-oliva. Era magro, tinha pernas ágeis e usava um turbante branco com uma pedrinha azul. Por baixo do turbante, os cabelos eram negros como os da rainha Isdora, sua mãe, e curtos como os do rei Paxá, seu pai.
O príncipe Rajá tinha muitos bichos de estimação, mas o seu preferido era a jibóia Hamida. Preguiçosa, ela era o oposto do seu dono, mas não se importava em ficar pendurada no ombro do menino enquanto ele corria por todos os jardins da Cidade de Ouro e Prata.
Rajá conhecia cada recanto dos inúmeros jardins e tinha dado um nome para cada bicho que vivia neles, até para os insetos. Ele também conhecia os 1.500 quartos de dormir, as 28 bibliotecas, as 690 cozinhas, as 833 salas de visita, os 725 banheiros e o porão, as masmorras, a mesquita, a igreja, a sinagoga e até o cemitério.
O menino havia percorrido toda a vastidão da Cidade de Ouro e Prata pelo menos seis vezes e meia, em 10 anos e sete meses de vida. E embora gostasse muito de todas as pessoas, todos os bichos, todos os quartos e salas e bibliotecas, e até das moscas, ele queria muito conhecer o mundo do outro lado dos portões dourados e prateados.
O príncipe Rajá desejava viver uma grande aventura, visitar novas terras e conhecer novas pessoas, novos bichos e até novas moscas. Queria dar a volta ao mundo e só depois, voltar para a
Cidade de Ouro e Prata.
Quando se tornasse homem e também o novo rei, ele iria manter os portões para sempre destrancados. Assim, quem quisesse partir como ele, saberia que na hora de querer voltar, a cidade estaria bem ali, de braços abertos.
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