A rainha prisioneira - Parte II
A rainha Isdora matava o tempo no cativeiro cantando. Desde as músicas da sua infância até aquelas que embalavam o sono de Rajá quando era bebê. Ela também marcava risquinhos na parede atrás da cama, um para cada vez em que as cortinas vermelhas filtravam uma luz de pesadelo, cada vez que o sol nascia. Cortinas vermelhas não combinam com o amanhecer, pensava a rainha, o quarto fica eternamente em penumbra e viver na penumbra é muito triste.
A rainha sentia falta de andar ao ar livre. Ela gostava de sair de manhã cedo, passear até o mercado em uma das praças do palácio-cidade. Nessas ocasiões, quando Rajá batia em seus joelhos, ela o ensinava os nomes das frutas. Lembrava com saudade que ele fazia caretas muito engraçadas quando provava uma fruta de sabor mais ácido. “Onde estará você Rajá?”, suspirava a rainha prisioneira.
Os dias no cativeiro são muito lentos, se arrastam amargamente e cada minuto parece levar séculos. Isdora contava as horas através das três refeições que recebia. Não era muita coisa o que seu algoz mandava para ela comer. A ceia era muito magra, dura, ressecada e com gosto de bolor, mas ela comia tudo. Sabia que não podia enfraquecer, porque se ficasse vulnerável, seria presa fácil para Islamal. As sombras projetadas pelas cortinas vermelhas também mudavam de posição de acordo com o avançar do dia e assim, Isdora calculava o seu tempo de prisão.
O mais angustiante era ficar imaginando o que teria acontecido com Rajá e com Paxá. Há dias ela não falava com ninguém. Da última vez que viu outra pessoa no quarto-prisão, tinha feito um risco bem grande na parede e colocado uma letra G, de gente, ao lado do risco. Era uma mocinha miúda, que entrou nos aposentados trazendo uma bacia de água para a rainha tomar banho. A menina entrou de cabeça baixa, colocou a bacia no chão ao lado da cama e saiu. Isdora tentou puxar conversa, perguntar a ela se sabia alguma coisa sobre o paradeiro do marido e do filho, mas a mocinha apenas colocara o dedo sobre os lábios, naquele gesto de pedir silêncio, e saiu do quarto.
Vinte risquinhos depois da visita da menina, Isdora sentia que precisava de outro banho. Era muito incômodo ficar sem lavar os cabelos tanto tempo. Sua pele também coçava muito e no quarto havia pulgas, certamente atraídas pelo cheiro de suor.
“Onde está Islamal? Tem quase dois meses que estou aqui presa e ele ainda não apareceu. O que ele estará fazendo? E o povo da cidade, o que ele disse ao povo para explicar a ausência da família real?”, a rainha pensava, pensava, até a cabeça doer ou ela sentir que estava prestes a ficar louca. “Não Isdora, você tem de agüentar! Nada de ficar delirando”, dizia a si mesma. “Islamal virá e quando ele chegar, estarei esperando e ele vai se arrepender...”
Para acompanhar o começo da história:
I- A cidade de ouro e prata
II - A vida doce dentro das muralhas
III - A gaiola dourada e o passarinho triste
IV - O sinistro mago Islamal
V - O pedido de Rajá
VI - O plano de Islamal
VII - Aprendiz de hipnotizador
VIII - A floresta sem fim
IX - A língua universal
X - A feiticeira da lua crescente
XI - O rei destronado
O rei destronado - continuação
O rei destronado - final
XII - A rainha prisioneira - Parte I
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