A rainha prisioneira - Final
As ajudantes prometidas pelo conselheiro de Islamal chegaram no final da tarde ao quarto. Traziam água quente, sais de banho, pétalas de rosa, escovas de cabelo e de dentes, henna para pintar as mãos e os pés da rainha, khol para seus olhos e uma mistura carmim para os lábios. Numa caixa, que Isdora reconheceu como sendo a sua própria caixa de jóias, havia braceletes, tornozeleiras, anéis, brincos e colares de pedras preciosas.
A rainha olhava as criadas indo e vindo pelo quarto, abrindo espaço para preparar o seu banho. Ela não ofereceu resistência quando as mulheres a tiraram da cama, despiram suas roupas sujas e começaram a esfregar a pele, lavar seus cabelos com água de rosas. Também se comportou bem enquanto as criadas desembaraçavam os longos cabelos negros e refaziam as tranças, enfeitando-as com pedrinhas. Estendeu as mãos e os pés para a pintura de henna e deixou-se maquiar como uma boneca, sem reclamar, sem resistir.
No final, quando estava belíssima no vestido novo enviado pelo seu seqüestrador, a rainha Isdora aguardou que a porta do seu quarto-prisão fosse aberta. E, quando isso aconteceu, ela correu. Correu como se tivesse asas nos pés, correu como se não fosse uma rainha, mas uma gazela fugindo de um tigre. Os guardas que foram mandados para levá-la até o jantar de comemoração corriam atrás da rainha, mas eram pesados, com armaduras de couro, capacetes, escudos e lanças. Isdora, em seu vestido leve e esvoaçante, pequena e magra, corria pelo palácio como um fantasma.
Conseguiu sair para um dos jardins. Misturou-se às flores e arbustos. Ficou escondida, arfando, recuperando o fôlego. A rainha conhecia cada um daqueles jardins, conhecia as propriedades de cada uma das plantas. As que curavam, as que matavam, as que lançavam quem as comesse em um sono eterno e uma plantinha em especial, capaz de transformar quem a comia em pedra. Recolheu um pedaço da planta venenosa para matar, um pedaço do seu antídoto para curar e uma muda inteira da que servia para transformar gente em pedra e guardou tudo sob as vestes.
Depois, calmamente, saiu do meio das flores e arbustos e, com passos decididos, caminhou até o grande salão real, onde sabia que Islamal a aguardava. A rainha tinha certeza que os guardas e as criadas não comentariam com Islamal a sua desabalada carreira pelos jardins. Os próprios guardas, atônitos, não entendiam direito o que a rainha tinha ido fazer no meio das árvores. Se ela queria fugir, porque não correu para o portão?
Pensaram que Isdora tinha enlouquecido depois de meses trancada. Todos que trabalhavam para Islamal sabiam que seriam castigados se contassem a ele que por alguns minutos perderam a rainha num dos jardins e já que, a própria rainha agora caminhava calmamente em direção ao banquete, parecendo tão calma e tão resignada, resolveram esquecer o assunto. Quando a guerra começasse, os soldados iriam lamentar. Mas aí, seria tarde demais.
Para acompanhar a história desde o início:
I- A cidade de ouro e prata
II - A vida doce dentro das muralhas
III - A gaiola dourada e o passarinho triste
IV - O sinistro mago Islamal
V - O pedido de Rajá
VI - O plano de Islamal
VII - Aprendiz de hipnotizador
VIII - A floresta sem fim
IX - A língua universal
X - A feiticeira da lua crescente
XI - O rei destronado
O rei destronado - continuação
O rei destronado - final
XII - A rainha prisioneira - Parte I
A rainha prisioneira - Parte II
A rainha prisioneira - parte III
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